Aquele pedaço de gelo era como um espelho
Revelava uma alma marcada
Refletia uma pedra bruta
Assim também o era - pedra bruta-
Seu criador desejava também ser esculpido
Lapidar o gelo expunha seu próprio desejo de ser aperfeiçoado
Pôs- se a dar forma a pedra bruta
Punha emoção a cada toque
E se fazia gelo para esculpir o gelo
Vira e se apegara ao trabalho que fez
Tinha a essência da arte, a criatividade
Por fim assustou-se com o que fizera
Sua escultura lembrava-lhe de seus tempos de criança
Num dado momento, recebeu mais um dom dos artistas: a sensibilidade
Olhou para o céu, viu tudo o que havia perdido
Não se sentiu sozinho, tinha sua criatura
ainda que de gelo
E apertou aquilo que chamava de seu
Na ânsia de proteger
Acabou por destruir o que o remetia ainfância
De suas mãos escorriam lágrimas
E uma escultura desfeita

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